Monday, February 12, 2007

Indefinição

Encontro-te junto ao parque. Estavas à minha espera.
- Onde vamos?
- Não sei. Por aí...
Seguimos por caminhos já conhecidos, aqueles que vão dar à tua casa lá no alto, mas viramos antes. Ficamos na vila. Ao dia apetece um café e um cigarro. Deixamos-nos estar no silêncio do fumo e do café ora amargo, ora doce.
Estás cansado, não dormiste. Mas não to apetece também.
- E vamos onde?
- Vamos por aí...
E vamos.
Por trás da vila, num outro monte há uma pequena capela.
- Subimos?
- Sim. Há umas escadas por aí.
E subimos por entre o cheiro a eucalipto e a laranjas de um quintal perto abandonado.
A vista é magnifica, hoje está um sol quente, um céu cor da luz depois da chuva. Os campos em volta ensopados de si mesmos, onde a água cria espelhos no meio do verde. (mas os únicos espelhos somos nós).
A capela é caiada de branco, pequenina e com um alpendre. O outro ruío. E à volta, em vez das faixas coloridas como as casas da vila, é pintada de negro - ...adequada ao dia.
Sentamo-nos num muro q fica por trás. Vemos a capela, as árvores perto e os campos ao longe, lá em baixo, encharcados do sol que vai descendo e torna tudo um pouco mais doce, mas mais frio também. Conversamos no silêncio. Sempre foi a nossa maneira de falar. Não dizer nada. Só estar.
Não sei o que quero. Não to sei explicar. Tu também não. Nunca o soubemos.
Ficamos assim abraçados a ver o sol descer... Ficamos assim durante um longo tempo.
Depois descemos, ainda parei a olhar os campos mais uma vez, como a despedir-me. Pq afinal viemo-nos despedir, mais uma vez. Talvez não um do outro, mas de nós mesmos um com o outro. E eu era perto e tu branco, como as cores da parede, e o dia não podia ser outro, nem outro seria melhor.
- Não sei dizer as coisas em palavras.
- Eu simplesmente sinto.
- E o que q sentes?
- Não to sei explicar.
...
- És uma indefinição, não te sei explicar, n te sei como sentir, simplesmente somos. Vamos sendo, como sempre fomos.
- E o que sempre fomos?
- Não sei. Não sei explica-lo. Nem tu... Sabes?
- Não...
...
- Às vezes é melhor não pensar. Pensar é estar dentro dos olhos.
- Então pensar é não ver.
- Para conseguires ver não podes pensar. Se pensares crias uma ilusão.
- A realidade é então uma ilusão pensada.
- É tudo ilusão.
- Andamos aos círculos.Voltamos sempre ao mesmo.
- Voltamos sempre...
E palvras já longe, dizes que não és de ninguém, nem preso a nada. Porque não queres. Porque és de tudo. Porque és livre.
E entendo agora, é precisamente por me sentir livre contigo, porque não há saudade entre nós, que me sinto bem contigo. Porque não me prendes.
E por breves instantes penso se não será esse o amor mais puro e desintressado.
Mas pensar é criar ilusão.
Não te amo, nem tu a mim.
Ironico - terei pensado ou sentido?